sexta-feira, 6 de março de 2009

Preparando o raide ao deserto do Namibe

O encontro foi marcado em Sangano, com almoço no “Careca”, bar da praia. O pretexto, se pretexto preciso fosse para rumar à beira-mar, era preparar a expedição ao deserto do Namibe, designação talvez pomposa para a passeata que se avizinhava e a que o empenhado grupo organizador, e isto sim é exagero porque, ao que sei, são apenas duas pessoas a trabalhar, deu o nome de “ 1º raide deserto do Namibe”*. Dos dois “carolas”, ambos de lusa nacionalidade, um é angolano de nascimento, de pátria e de coração, apaixonado pela terra e pelas gentes, capaz de galgar estradas e picadas, sobretudo picadas, prefere, em busca de um naco de paisagem num recanto da natureza. E fá-lo com tal alegria e afinco que arrasta outros, porventura menos afoitos, na corrida. Neste caso deu em raide. E vão fazer-se à estrada mais de trinta patrícios, distribuídos por doze “jipes”. Não fica nada mal chamar-lhe raide….

A manhã foi escorrendo mansa na extensão do areal, a caminhada solta à borda-d’água, a cada passo mar adentro, com modos, que mesmo se se não mostra alteroso não é para brincadeiras, é senhor de respeito, a água a refrescar, sem arrepiar, os corpos espevitados pelo sol, senhor de larguezas, a espraiar-se despudoradamente sobre a praia. Sem sombra nem abrigo, larga faixa de areias claras à beira-mar estendida.

A dado trecho, lá para os lados do “Careca”, a aldeia dos pescadores , casas-cubatas colmadas, e estendais de seca do peixe, entrincheiradas por entre palmeiras e arbustos, vai-se desamodorrando das lides caseiras e vai dando à praia garridice de mulheres e revoadas de putos, seminus, porque à praia começam a dar os barcos saídos cedo para a faina. Os homens puxam os barcos, e todos ajudam, amanham o peixe logo ali e com poucas palavras, compenetrados no seu labor, vão fazendo o preço ao peixe que grupos de veraneantes se aprestam a querer comprar. Quando se avista o barco a chegar é um vê-se-te-avias de pretendentes, malas térmicas acauteladas, a espreitar o bojo atascado de peixes, a pasmar pelos tamanhos e variedade, a propôr a compra de ocasião, e os homens, os pescadores, como se não fosse nada com eles, vão fazendo o negócio. E bom negócio faz quem compra, ora bem, que peixe assim tão fresco e tão à mão não é oportunidade que se desperdice; em Luanda, se se lhe chegar, há-de custar talvez quatro ou cinco vezes mais. Alguém ganhará com isso que não o pescador.

Enquanto a azáfama de chega e puxa barco, mira e compra peixe, todos aparentemente se amontoam, turistas e nativos, mas o certo é que novidade é para os que chegam, porque os outros, os habitantes da aldeia, não parecem minimamente afectados pelo reboliço, dão-se à rotina do trabalho, reservados e indiferentes, como senhores do sítio, que o são: na praia nascem, crescem e vivem, e, se não no mar, morrem. Dos que chegam a banhos e partem ao entardecer observam os gestos e os costumes, de soslaio, sem se darem por achados. Gente com dignidade.

Chegada a hora do almoço, o sol a pino a esbrasear tudo e todos, a sede aperta e até já se come com os olhos. Os petiscos amariscados aprumam-se na mesa enquanto se aguarda o misto de peixe grelhado: lagosta, linguado, corvina, garoupa, de tudo um pouco e a contento dos gostos. De caminho vai-se apalavrando a viagem, acertam-se pormenores, e os chamados chefes de viatura, os homens desta faina, previnem-se com mais uma cópia do road-book, que a viagem é dura, impõe-se o respeito das regras , e não pode haver desculpas por alegado desconhecimento do acordado e estipulado. Está tudo escrito, e à disposição dos excursionistas, na brochura “ 1º RAIDE Edifer Angola”*, também acessível em http://ediferangolatt.blogspot.com/.

Para já está prevista a partida no próximo sábado, dia 21 , às 3h30, concentração no Largo 1º de Maio, em Luanda; almoço no Huambo e dormida no Lubango. O dia promete e os que se lhe seguem não lhe ficam atrás. Que a alegria e a boa disposição acompanhem a jornada. Que o lavar de olhos das lonjuras e o desenxovalhar de alma da beleza das paisagens engulam a poeira, o calor e o cansaço. Que do raide nos fique um saber a pouco e um querer mais.

Luanda, 19 Fevereiro 2009

*“ 1º RAIDE Edifer - Angola, Deserto do Namibe, 21 a 24 Fevereiro 2009”

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