quarta-feira, 29 de abril de 2009

Voltando a Sangano....

Voltei a Sangano, depois das calemas que, em princípio, se foram até novo equinóceo que as solte. A praia está diferente, pareceu-me maior. A maré, manhãzinha, estava vaza mas mesmo assim o mar, um nadinha espevitado p’ro costume, dançaricava mais abaixo, como quem desceu a bainha da saia ao areal ali espojado. E pela primeira vez consegui atravessar o pregueado miúdo de rochas que costumavam impedir a passagem para a baía mais ao lado, de que até então apenas avistara o redondo azul a bordejar a falésia recortada.

Logo ali a novidade da lagoa, enorme, também ela muito azul a desenhar-se na areia dourada e a enfiar-se entre as arribas. Praia ampla, quase virgem,, de um lado o mar, do outro as arribas, e lá bem encostadinha a lagoa, escondida da marca das pegadas, poucas, que se avistam junto à borda d’água. O fundo é de argila, cinzenta, viçosa vegetação ao redor, é uma espécie de maternidade de peixes que rabioscam fugidios à aproximação de estranhos, no caso gente a enterrarmos os pés no fofo escorregadio da lama.

E logo adiante a surpresa dos pés das falésias enfiados em meias cinzentas com búzios pequenitos esbranquiçados pregados ou espetados. O tempo e a acumulação de sedimento se encarregará de fossilizar o coturno. Para já , parece que estamos a ver um enorme pavilhão a céu aberto onde instalações de artista caprichoso se exibem. Artista que a sabemos ela, mãe-natureza, imprevisível e caprichosa como convém.

Para completar a mostra e pasmar os visitantes aqui e além, pousados na areia, uns pudins, alguns meio escangalhados no desenformar, decorados com umas rosetas de caramelo mais apertado, castanho muito escuro. Digamos que os “pudins”, rochas magmáticas que afloram e o sol esquadraça à supeficie, vão puxando o caramelo à medida que esfriam, formando-se cristais arrebicados, tipo pétalas, que lhes dão aquele aspecto de corolas de rosas empinocadas. E mais se hão-de empinocar e aglomerar por força do tempo, e dar lugar aos maciços das arribas que se alteiam a ver o mar. Falésias altaneiras, encarapinhadas de verde nos cocurutos, de onde a onde carrapitos de araucárias, aos avanços e recuos sobre a praia, ora acinzentadas e reboludas, ora tingidas de amarelos ocres dégradés, laminadas, a lembrar gigantes pasteis folhados .

Como não sabia como me explicar, tão encantada fiquei com o que vi, deu-me para a pastelaria alegórica. É um recurso como outro qualquer. À falta de melhor imagem….


Luanda, 27 Abril 2009

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